

Hastur
O Senhor de Carcosa. Aquele que não deve ser nomeado. O Rei de Amarelo. Ele possui muitos nomes, mas nenhum deles é capaz de explicar o que Ele realmente é, e qual a Sua amplitude.
A despeito das imagens que ilustram esse artigo, Hastur não é um ser. Ele é uma força que se instala em toda mente que vislumbra seu símbolo. Ele transforma histórias em doença. Ele se espalha como uma infecção. Ele esconde verdades impronunciáveis sob sua máscara pálida. E quando ele escolhe erguer esse véu, a realidade do universo, vasto e terrível, se revela em toda sua gloria.
Antes de ser temido, Hastur era reverenciado. Em 1893, o escritor americano Ambrose Bierce concebeu uma historia sob o título "Haita, o Pastor". Essa é uma fábula fantasiosa, não um conto de horror. Ela trata de um jovem pastor de ovelhas que vive em uma região rural idealizada. Campos relvados, flores silvestres e árvores frondosas o cercam. Seu mundo é puro, intocado pela dor e sofrimento. Seus dias são pacíficos, transcorrendo entre a tarefa de zelar pelo seu rebanho e oferecer devoção a um Deus chamado Hastur.
Essa versão de Hastur é uma figura divina, serena, nunca vista, nunca descrita, mas sempre presente nos pensamentos do jovem. Ele representa a paciência a bondade e a promessa de recompensas para aqueles que o seguem com respeito. Na história de Bierce, Hastur é menos um personagem e mais um conceito, uma presença reconfortante ligada a inocência e esperança. Não há um mal presente, nenhum pavor oculto ou manifestação virulenta. Nem mesmo o Símbolo Amarelo. Apenas um rapaz, uma colina, os campos e um Deus que ouve.
Mas então, algo mudou.
O nome Hastur permaneceu, mas o significado foi pervertido em algo muito mais profundo e aterrorizante. Apenas dois anos após sua criação, outro autor tomaria o nome emprestado e o transformaria em algo inteiramente diferente.
A mudança de um Deus benevolente para uma entidade niilista, mais parecido com uma infecção ocorreu de maneira violenta e quase que sem explicação. E talvez seja isso que torna Hastur tão perturbador. Sua origem era pacífica, mas ela foi naturalmente corrompida quase que de imediato. Cooptada por uma mácula doentia, virulenta, nauseante... uma ferida de Cor Amarela.
Nas histórias concebidas por Robert W Chambers, uma nova forma de horror se desenvolveu, espalhando-se como uma contaminação que viajava pela própria ficção. Sua coleção de contos, lançada em 1895, chamada de O Rei de Amarelo (The King in Yellow), apresentava um punhado de histórias conectadas por uma misteriosa peça teatral de mesmo nome. A peça existia em um universo de histórias, mencionado aos sussurros, lidas em segredo e temidas por aqueles que a encontravam. Ela era o vetor da infecção que vazava para a realidade através da criatividade e das alterosas asas da imaginação.
Apenas alguns trechos dessa obra cabalística eram citados entre aspas, mas esses meros fragmentos sugeriam algo vasto e implacável. O primeiro ato capturava a imaginação do leitor atraindo-o para um mundo de fantasia. A história envolvia a corte de um Reino com ares renascentistas que anseia por um casamento real entre a Rainha e seu misterioso consorte, monarca de uma cidade ainda mais misteriosa, Carcosa. Para tratar dos proclamas, um emissário é enviado e sua chegada causa grande agitação.
O segundo ato introduz conceitos bizarros demais. A chegada do enviado, usando uma máscara pálida e uma brasão de autoridade descontrói a realidade do Reino. Nada parecia estável. Real. Lógico ou mesmo coerente. Ao longo da trama, uma sensação de sonho vai tomando conta de tudo e os personagens são cooptados pela trama e transformados em algo que não são. A cidade se torna uma versão de Carcosa até que os habitantes abandonam de vez a sua identidade, assumindo outra que se encaixa no desejo do Rei Amarelo, aquele que irá desposar a Rainha.
Assim como a trama apresentada na peça, o texto tinha o poder de alterar o mundo e a forma como o mundo existia sob um prisma lógico. Emoções mudavam. Identidades desmoronavam. Ela distorcia. E na mesma medida revelava algo que o leitor não estava preparado para contemplar.
Ao longo da peça havia uma série de elementos recorrentes. Carcosa, a cidade esquecida, envolvida pelo pó e pelas névoas. O Lago Hali, interminável e perene. O Símbolo Amarelo, uma espécie de brasão místico que surgia em pinturas, roupas e sonhos. Cada elemento acrescentava uma camada ao sentimento de contaminação, como se a própria historia carregasse uma moléstia invisível oculta nas palavras, no sentido e no teor.
No centro dessa Espiral de Loucura habitava Hastur. Ele não entrava em Cena. Ele não falava, mas sua presença onipresente se insinuava nas bordas da narrativa como uma ameaça persistente. Ele vivia nas margens, mencionado an passan, sem uma explicação de sua importância ou papel. Sempre próximo da Insanidade da qual ele despontava como uma espécie de santo padroeiro do conformismo.
Chambers jamais delineou quem ou o que era Hastur. Seu poder residia na sugestão, na forma como seu nome era evitado e como mesmo assim ele penetrava através da mente, como um ferro em brasa que deixava sua marca indelével. Nesse mundo, Hastur não era um visitante. Sua presença estava costuradas na historia, aguardando atrás de uma cortina, atuando através de outros que sua influência vil já havia pervertido.
A partir de então, o nome Hastur foi passando de criador para criador, compartilhando seu conceito original e assumindo vida própria. Mas a pergunta permanecia sem resposta: O que é Hastur?
Ele não é definido por uma simples forma. Ao invés disso ele é uma presença que se move através de estruturas, historias, narrativas, ambientes, símbolos... cada qual capaz de erodir a mente dos mortais de dentro para fora. O medo que ele dissemina não vem de morte ou destruição, mas da transformação definitiva. Do abandono da forma inicial para a transmutação rumo a outra forma desconhecida. Quando a influência de Hastur começa a se manifestar, o próprio ser se altera.
Na forma de seu Avatar, O Rei Amarelo ele surge no segundo ato da peça. Sua presença cria um ponto de mudança. A audiência começa a perder os limites entre personalidade e identidade. Eles repetem trechos que jamais haviam lido ou ouvido antes. Eles respondem a deixas que nunca lhes foram dadas. As senhas parecem se revelar e as lacunas são preenchidas por memórias que não são suas. Amigos se tornam estranhos. Familiaridade se torna uma atuação inócua. Eventualmente a diferença entre quem eles são e quem eles se tornam desaparece por completo.
Mas a mudança não é perceptível. A nova identidade se projeta como uma segunda pele que sempre esteve ali. Aqueles que são contaminados despertam agindo de forma diferente, repetindo trechos da peça maldita e vivendo com ela sempre em sua mente. Uma face familiar se converte no rosto de um personagem. E suas crenças sofrem uma mudança para algo no qual eles jamais acreditaram.
Hastur se espalha através do idioma. As palavras se tornam vivas com a sua mácula, como germes dispersos no ar. As palavras são como versos e ritmos que reverberam nos corredores da mente. Logo os sonhos são infestados por devaneios tão reais que é difícil dissociar o que é sonho e realidade.
A contaminação refaz as memórias e adapta trechos de sua vivência ao que fazia parte da peça. A peça ganha conotação de vida e se mistura de tal forma que não há mais como saber onde uma começa e outra termina. É possível que uma pessoa afligida repita o mesmo comportamento diariamente sem se dar conta de que anos se passam e ela se tornou um autômato. A vítima passa a ouvir sons que não existem em breves instantes de silêncio. Ela contempla visões perdidas na filigrana de uma pétala, que esconde segredos da própria criação.
Enquanto isso, Carcosa se torna o mundo.
A cidade que existe em um limbo cercado de névoas e silêncio se manifesta como um lugar metafísico. Sua arquitetura não possui lógica, com ruas como veias e avenidas como artérias que seguem para praças e palacetes que são como os órgãos de um corpo vivo e pulsante. A cidade se revela sob luzes de um sol invisível projetando sombras que se movem com vida própria. Estátuas vivem e caminham, apenas para voltar ao pedestal no momento seguinte. O tempo se dobra e expande. Aqueles que andam pelas calçadas pavimentadas de Carcosa param de perguntar onde estão. Eles aceitam sempre ter estado lá, mesmo que isso não seja verdade. A cidade infinita se torna seu habitat. Eles não carecem de mapa para explorar sua geografia caótica pois a cidade se torna conhecida para eles. É como se tivessem vivido sempre nesse lugar desde o início dos tempos.
E esse é um dos aspectos mais insidiosos de Hastur: fazer a realidade se impor na mente do indivíduo tornando-se uma certeza. O estranho e bizarro ganham contorno de familiaridade. Em pouco tempo, ao viajante de Carcosa nada mais é incerto pois ele se converte em um habitante. Ele não é mais um visitante fugaz, mas um morador, pela vida inteira. Antes e depois só há Carcosa. Ela se torna sua pátria e sua derradeira morada.
Quanto ao Símbolo Amarelo, ele é como um cartão de visita. A primeira vez que é visto, ele queima sob as retinas gravando sua forma nos recessos da mente. Inesquecível e indelével. O individuo que tem esse primeiro contato não consegue esquecer sua forma e ela arde feito uma queimadura de ferro. Como tal transmite sua forma para a pele causticada. Suas bordas, seus sulcos, sua forma.
O símbolo nefasto surge então repetidas vezes, sugerido em padrões caóticos que adquirem repentina ordem gerada por circunstâncias que são mais do que o acaso. Uma, duas, três vezes... ele se manifesta nas nuvens do céu, nas dobras de um tecido, no padrão de pássaros que alçam voo. A visão repetida do Símbolo abre a mente para experiências sensoriais que só podem ser descritas como alucinações conscientes.
Aos poucos o símbolo altera a percepção, os sonhos, a memória e a própria identidade. Não por acaso, a frase repetidas pelos iniciados é "você viu o Símbolo Amarelo?" Este é uma espécie de código usado para identificar aqueles que foram tocados pelo insidioso brasão do Rei Amarelo.
A presença de Hastur se expandiu no século XX e seu nome foi absorvido pela crescente teia de Horror Cósmico conhecida hoje como o Mythos de Cthulhu. No centro dessa rede está o autor H.P. Lovecraft, um escritor obcecado pelo conhecimento ancestral, divindades incompreensíveis e a insignificância da existência humana em um vasto e indiferente universo. Lovecraft não inventou Hastur, mas tomou seu nome emprestado de Chambers, assim como Chambers fez com Bierce.
Nas historias de Lovecraft o nome surge apenas de forma passageira, confinado em listas arcanas, murmurado em referências ocultas ou enterradas em textos proibidos. Ele jamais descreve a forma de Hastur e nem as suas ações. E é esse silêncio que concede ao nome seu poder.
Em um universo repleto de deuses monstruosos e dimensões alienígenas, Hastur permanece como uma das forças cósmicas mais incômodas de ser conceituada, precisamente porque ele jamais é revelado.
Mais tarde, o fiel seguidor de Lovecraft e seu executivo literário, August Derleth levou o nome adiante. Derleth tentou organizar o Mythos em uma espécie de panteão estruturado concedendo a cada entidade desempenhando um papel e um alinhamento na hierarquia cósmica. Sob a mão de Derleth, Hastur se tornou um dos Grandes Antigos associado a decadência, loucura e a distante Constelação das Hyadis. Ele definiu que Hastur habitava o Lago Hali, concedeu a ele rivalidades, um culto e uma inimizade amarga com o Grande Cthulhu.
Mas no momento que Hastur é enquadrado, como outros deuses, ancorados a coordenadas definidas e forçado numa ordem, algo se perde. O medo que Chambers incutiu na incompreensão do que é Hastur não resiste a uma classificação. Mas ainda assim, ele persevera e continua a se espalhar como uma presença impossível de conter.
Isso é o que separa Hastur dos outros deuses.
Outras deidades no Mythos dominam através de uma escala, através da aparência ou pela força. Hastur domina através da presença. Ele sobrevive às contradições e prospera nas interpretações. Ele não precisa aparecer, sua força cresce quando ele apenas é mencionado.
No Universo lovecraftiano, muitos horrores vêm das estrelas. Mas Hastur é diferente, já que ele se manifesta através de ideias, através da arte, da linguagem e de seu Símbolo Amarelo. Este é o seu modo de transmissão.
O Rei Amarelo que aparece na série True Detective não é um personagem, mas uma ideia costurada no background. O Símbolo Amarelo aparece em desenhos, Carcosa é citada como um lugar misterioso. Os personagens se perdem perseguindo um significado que eles não são capazes de nomear. A narrativa se desenvolve em algo que sugere uma força antiga abaixo da superfície.
Hastur hoje é usado como um tipo de analogia a um vírus narrativo.
Ele se move através da língua, através da sugestão, por padrões ocultos. O leitor, o espectador e o ator disseminam essa doença cada vez que tocam na narrativa.
O medo que Hastur impõe ocorre porque ele reescreve a realidade ao seu modo. Seu poder está em construir uma nova verdade e fazer as pessoas acreditarem que ela sempre esteve lá. O poder de Hastur é implacável e não pode ser negado. De muitas formas ele pode ser compreendido como a Entropia Encarnada. Uma variante que uma vez introduzida é capaz de destruir todo um sistema.
Existe uma fina linha entre especulação, lenda e fato no caso apresentado neste artigo.
Talvez nem tudo possa ser levado à sério como verdade incontestável, afinal, muitos conceitos e noções aqui expressas parecem absurdas, estranhos e até mesmo bizarras demais... contudo, se apenas uma parcela do que é relatado aqui for verdade, já é, no meu entender, preocupante e horrível o suficiente. Eu fiz uma pesquisa antes de escrever esse artigo, por considerar que talvez ele fosse fundado em exageros. Provável até que seja, mas muita coisa também parece corroborada por fatos. Ao leitor cabe aceitar tudo com uma dose de suspeita, mas também estar aberto ao conceito de que o mal existe e nenhum mal é pior do que aquele que as pessoas estão dispostas a praticar umas contra as outras.
Sem mais delongas, vamos começar.
Não é de hoje que pessoas muito ricas, famosas e poderosas desejam preservar a privacidade à qualquer custo. Elas protegem suas casas para que nada e nem ninguém saiba como vivem e o que fazem. Essas pessoas vivem em lugares que ninguém exceto os próprios moradores ou seus amigos mais próximos conhecem. Em mansões e palacetes cercados por luxo e privacidade, eles tem a liberdade de expressar quem realmente são, longe de olhares curiosos.
Mas na mesma medida que alguns querem apenas uma vida tranquila e um esconderijo protegido da atenção alheia, outros usam esses refúgios inacessíveis para realizar condutas imorais, absurdas ou até mesmo, criminosas. Usando esses muros altos e paredes grossas em benefício próprio, eles acreditam estar livres para fazer o que bem entender. Rituais estranhos, orgias escandalosas, cerimônias satânicas, crimes violentos e todo tipo de blasfêmia podem acontecer nesses ambientes controlados. E nada disso chega ao conhecimento público.
Escondido nas profundezas da Floresta das Ardennas na Bélgica ergue-se um destes lugares secretos. Trata-se de um castelo que dizem ter sido o palco de horrores indescritíveis e que ainda hoje hospeda práticas bizarras. As lendas são tão abundantes quanto estranhas. A construção em um local completamente isolado é tão restrita que são poucos os que ousam se aproximar dela, alguns evitam até mesmo dizer seu nome em voz alta.
O Chateau de Amerois (diz-se Ame-ro-AS) é conhecido também pelo sinistro nome de o Castelo das Mães das Trevas. Teoristas das Conspirações e Buscadores da Verdade oculta veem esse lugar como uma das sedes usadas pelo grupo conhecido como Illuminati, uma Sociedade que congrega as pessoas mais ricas e poderosas do planeta, um clube exclusivo para aqueles que de fato controlam o mundo.
Informações sobre o Castelo são vagas e imprecisas. Parece haver um manto de sigilo que busca preservar a história antiga e atual do Castelo ocultando seus segredo, sua localização e mesmo sua aparência. As poucas fotos existentes de sua fachada são antigas e desatualizadas, já do interior do castelo não há praticamente nenhuma imagem. Os atuais donos, sejam eles quem forem, preferem manter as coisas desse jeito. Tanto a BBC quanto a National Geographic tentaram reiteradas vezes contatar os proprietários do Castelo de Amerois, pedindo a eles acesso para fazer fotografias e vídeos, sabendo da importância histórica do local. Nenhum deles teve permissão para se aproximar.
Placas ao redor da propriedade avisam que invasores serão tratados com todo o rigor da lei. Há muitas placas advertindo que o acesso a propriedade é vedado e que guardas armados promovem a segurança das premissas. Há sensores de movimento, câmeras instaladas nas árvores e cercas eletrificadas em todo perímetro. As poucas pessoas que conseguiram invadir o local e fazer algumas imagens comprovam que o equipamento de segurança é de última geração e que os rumores sobre vigilância constante são reais. Em 2010 um grupo de exploradores urbanos conseguiu se aproximar a 250 metros da entrada do Castelo, quando foram cercados por guardas armados que os renderam. Após ser capturado o grupo foi processado e teve que arcar com pesadas multas.
Mas qual o objetivo dos proprietário desse Castelo? Por que elas tentam zelar por sua discrição dessa maneira? O que escondem e quais são seus segredos?
O Castelo de Amerois foi originalmente construído em 1849 pelo Conde de Misneil, um importante nobre com ligações com a Família Real belga. Ele posteriormente vendeu a propriedade para Theodore Van der Nuit o Oitavo Marquês de Ash em 1859, ou segundo alguns perdeu a propriedade em um jogo de azar. Contudo, o castelo passaria para o Príncipe Phillip de Flandres, parente de sangue da Dinastia Saxe-Coburg, a mesma linhagem da atual Família Real Britânica. A Dinastia Saxe-Coburgo é uma das mais antigas e poderosas da Europa, com membros presentes em várias famílias reais do continente.
Acredita-se que a posse do Castelo tenha passado por diferentes membros da Dinastia e que seus atuais proprietários sejam parte da Família Soulvey que tem vínculo de sangue direto com a Casa Real da Bélgica. Os Soulvey estão entre as famílias mais abastadas da Europa com o controle acionário sobre Indústrias Farmacêuticas e Químicas. Eles são os maiores produtores mundiais de gás fluorídrico, vital para a produção de inúmeros materiais na indústria moderna, de pasta de dente e água gaseificada, até refrigeradores e sistemas de resfriamento para maquinário pesado. Os Soulvey são os Donos de um Império bilionário cuja extensão é difícil de calcular.
Embora as informações sejam fragmentadas, acredita-se que eles adquiriram o Castelo de Amerois nos anos 1940, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial. A região havia sido severamente atingida por combates e foi o palco das Batalhas de Ardennas e Bulge que marcaram a história como algumas das mais sangrentas do conflito. Na época, em face da destruição promovida, o Castelo teria sido arrematado pelos Soulvey por um valor bem abaixo do seu preço normal.
As histórias sinistras sobre a região em que o Castelo foi construído não afastaram seus proprietários e de fato talvez tenham até os atraído. Segundo os rumores mais antigos, essa região isolada das Ardennas foi uma das últimas a ceder espaço para o cristianismo, mantendo tradições pagãs muitos séculos depois da disseminação da cristandade. Quando enfim a fé cristã conseguiu penetrar na região muitas famílias locais continuaram praticando secretamente seus costumes ancestrais, o que resultou em inúmeros rumores sobre bruxaria.
No século XIV, a região supostamente foi o lar de uma Cabala de Feiticeiras que operava clandestinamente. Elas convergiam para essas florestas escuras em busca de lugares antigos onde pedras cobertas de runas serviam de altar e árvores com galhos secos seus guardiões. Os rituais proibidos eram tratados como satânicos, mas poucas pessoas tinham coragem de censurá-las. Entre os membros proeminentes estavam nobres e ricos senhores de terras. Os historiadores afirmam que esse grupo era tão influente que agia sem temor, chamando a si mesmos de Mães das Trevas. Os rituais macabros aconteciam em datas específicas quando o demônio alegadamente respondia suas invocações. Diante dele, pactos inomináveis eram assinados com sangue. De fato, muito do poder das Mães das Trevas supostamente provinha dos acordos que elas intermediavam ou que elas próprias haviam firmado.
As Mães das Trevas teriam permanecido como uma força incontestável na região até meados do século XVIII quando passaram a ser tratadas como mera lenda. Contudo para historiadores a existência desse grupo pode ser comprovada através de relatos do período. A ligação do grupo com o Chateau de Amerois é incerta, mas presume-se que a construção do castelo não passou desapercebida. Para muitos, elas se entranharam no tecido social, disfarçando sua influência, sem jamais desaparecer por completo.
Se os atuais proprietários do Castelo de Amerois são ou não os herdeiros das Mães das Trevas é uma questão aberta a interpretação, o nome contudo se mantém. Seja como for, o passado sinistro parece encontrar eco no presente obscurecido. Não é de hoje que os boatos sobre festas e reuniões exclusivas no Chateau atiçam a curiosidade do público. Quando indivíduos poderosos, supostamente alguns dos mais influentes players do mundo se reúnem sob um mesmo teto, é difícil conter a imaginação.
Os rumores sobre festas selvagens com convidados VIP ganharam fama a partir da década de 1960. Haviam boatos sobre excessos de todo tipo: consumo de drogas, orgias sem controle, cerimônias blasfemas, práticas de zoofilia, sadismo, tortura, pedofilia e outras condutas tão atrozes que é impossível listar todas. Entre os presentes estariam políticos, celebridades, artistas, esportistas, financistas... a nata da sociedade, do jet set e da Lista dos mais ricos segundo a Revista Forbes.
Nos aposentos fechados, em meio ao luxo e fausto, ocorriam rituais, sendo a "Iniciação de Olhos Fechados" uma espécie de tradição imposta aqueles que visitavam o Castelo pela primeira vez. Nesta ocasião, o convidado era incentivado a praticar todo tipo de excesso sem saber que estava sendo filmado. O registro era uma maneira de controlar e de garantir o sigilo perpétuo do recém chegado. Se por acaso ele tentasse se evadir da influência do grupo ou revelar o que acontecia no Chateau, poderia ser convencido a repensar sua conduta. E se chantagem não fosse o suficiente, havia ameaça e coação. Como toda boa fraternidade secreta, os convivas do Castelo de Amerois podiam impulsionar ou destruir carreiras facilmente.
Outra prática tenebrosa que supostamente ocorria nos bosques circundantes era chamado de "O Mais Perigoso dos Jogos". Neste uma presa era escolhida, geralmente uma criança ou um jovem de acordo com o gosto dos participantes. Esta vítima era despida, com exceção de um par de calçados e libertada na mata para que tivesse a chance de correr pela sua própria vida. Atrás dela se iam os convivas, vestidos à caráter, armados com espingardas, escoltados por cães e valetes que os guiavam pela mata no encalço da presa. Como em uma caça à raposa, o objetivo era encontrar o "animal fugitivo" e extrair da experiência a satisfação que só o abate poderia proporcionar.
Nos anos 70, uma suposta sobrevivente de uma dessas caçadas teria sido entrevistada por repórteres que publicaram sua história. Houve repercussão na época, mas a matéria acabou sendo sufocada e censurada nas cortes de justiça. No fim, processos pesados garantiram que a denúncia não fosse investigada além daquele ponto.
Muitas outras histórias sinistras chegaram a imprensa, relatos que partiam de empregados, antigos funcionários e até mesmo alguns convidados que se mostraram chocados pelo horror que acontecia no interior do Castelo de Amerois. Não havia contudo provas e era difícil de provar qualquer alegação sem elas.
Outro rumor recorrente menciona a realização de missas negras ocorrendo em uma câmara subterrânea que um dia serviu como masmorra ao Castelo. Nessa câmara de pedra bruta os rituais profanos eram conduzidos por homens e mulheres vestindo mantos e capuzes negros. Em tais celebrações, que invariavelmente terminavam com uma orgia blasfema, ocorriam sacrifícios de sangue com inocentes sendo passados pelo fio de lâminas empunhadas por auto proclamados satanistas.
As ditas práticas satânicas pareciam ter ligação direta com o passado distante do Chateau de Amerois e as lendas sobre as Mães das Trevas. Para alguns a cabala teria se perpetuado através dos séculos cultivando devotos entre os frequentadores da propriedade. A camaradagem entre os membros desse culto garantia benefícios estendidos apenas aos confrades que protegiam uns aos outros.
Contudo as denúncias mais graves diziam respeito a um Círculo de Pedofilia que usava o Castelo como sede de suas repulsivas reuniões. Essas acusações datam desde o início dos anos 80 e foram incrivelmente recorrentes ao longo dos últimos quarenta anos. As reuniões seriam frequentadas por homens influentes que levavam uma vida dupla, sendo perfeitamente ilibados no dia a dia, mas que à noite se entregavam ao que podia haver de pior na companhia de seus pares.
Os rumores sobre as práticas ocorridas no Chateau de Amerois ganharam corpo depois do escândalo envolvendo as revelações do Assassino em Série Marc Dutroux preso em 1995. Dutroux foi o protagonista de uma sequência de mortes que chocou a Bélgica e ficou conhecido como um dos casos mais sombrios da história moderna do país.
Dutroux foi preso após o sequestro, estupro e assassinato de crianças e adolescentes na Bélgica entre os anos de 1995 e 1996. Seus crimes foram praticados no porão de sua casa, com a anuência de sua própria esposa Michelle Martin que participou de algumas das mortes. A palavra hediondo não é capaz de descrever o teor desses crimes que envolviam tortura e sadismo.
Em seus depoimento à polícia após ser detido, Dutroux confessou que servia como traficante, cafetão e sequestrador para indivíduos que se encontravam regularmente no Castelo de Amerois. Estes o contrataram várias vezes com o intuito de suprir o grupo com um estoque contínuo de crianças capturadas em toda Bélgica. As crianças eram usadas em orgias e em rituais de cunho satânico segundo o próprio denunciante.
O testemunho de Marc Dutroux à cerca de suas atividades criminosas caiu como uma bomba no país e dada a gravidade das denúncias causou enorme repercussão. Muitos acreditavam que ele havia inventado as acusações, mas outros defendiam que muitas coisas que ele falava tinham um fundo de verdade. Jornais europeus descobriram que mesmo enquanto esteva preso Dutroux continuava a receber uma espécie de salário mensal transferido por uma fonte no Governo Belga, via offshore. Ele também tinha várias contas bancárias e imóveis em seu nome, compondo um patrimônio muito superior ao que um simples eletricista deveria possuir. A fonte de sua riqueza provinha, segundo o próprio criminoso de suas conexões com os homens do Castelo de Amerois para quem ele realizava "todo tipo de serviço".
No curso de seu julgamento, Marc Dutroux sugeriu que caso revelasse tudo o que sabia e o nome de alguns envolvidos, todo governo seria abalado e poderia eventualmente não resistir ao escândalo e ruir. Psiquiatras chamados para avaliar a sanidade do criminoso se dividiram sobre sua capacidade, alguns alegando que ele não era mentalmente capaz e que tinha propensão a mentir de maneira compulsiva. O caso causou uma repercussão tão grande na Bélgica que em 1996 cerca de 300 mil pessoas se reuniram nas ruas e praças de Bruxelas para protestar e exigir que o governo investigasse as alegações do réu, indo até as últimas consequências e prendendo os envolvidos.
No fim, Dutroux não revelou o nome de nenhum de seus supostos conspiradores e foi condenado a Prisão Perpétua em Nivelles no sul de Bruxelas. Ele foi totalmente isolado e permanece preso em uma ala de segurança máxima dedicada apenas a ele. O assassino foi jurado de morte por inúmeras pessoas. É pouco provável que ele possa vir a deixar a prisão e ganhar liberdade algum dia. Ele tem atualmente 72 anos e uma saúde bastante frágil.
Em 2009 o Wikileaks vazou um extenso dossiê à respeito da investigação secreta conduzida pela polícia à respeito das denúncias feitas por Marc Dutroux. As autoridades belgas tentaram proibir a publicação do dossiê que continha o nome de centenas de pessoas que foram investigadas após seus nomes serem citados pelo criminoso. Entre estes estavam Willy Claes, secretário-geral da OTAN, Paul Vanden Boeynants, ex-primeiro ministro da Bélgica e o Príncipe Alexandre de Saxe-Coburg-Gotha todos eles alegadamente eram participantes das reuniões e orgias que ocorriam no Castelo de Amerois e outros lugares utilizados pelo Círculo pedófilo
Investigações independentes concluíram que o caso inteiro foi conduzido de maneira leniente com o objetivo de livrar os suspeitos. Pistas não foram examinadas e provas periciais se perderam ou jamais foram analisadas corretamente. A própria idoneidade da corte de justiça foi colocada em dúvida já que Promotores e Juízes foram citados entre os envolvidos com o grupo. A teia de perversidade e corrupção parecia não ter fim, contaminando tudo e todos. Mesmo que nem todos tivessem envolvimento direto com as práticas pérfidas supostamente realizadas pelo Círculo, muitos agiam acobertando ou desviando o foco das investigações em benefício destes. Além disso, a BBC teria apurado que mais de 20 testemunhas ouvidas no correr da investigação morreram de maneira suspeita nos anos seguintes.
As conclusões finais apontavam para uma provável conspiração, mas nenhum entre as centenas de indivíduos citados no dossiê chegou a ser processado formalmente. Para muitos observadores internacionais, o governo belga exerceu pressão ilegal e protegeu os envolvidos garantindo a segurança dos suspeitos. Segundo uma pesquisa realizada e 2020, 85% da população da Bélgica acredita ter havido intromissão do Estado no Caso Dutroux.
Atualmente o Castelo de Amerois continua despertando muitos questionamentos e atraindo um sem número de rumores que não podem ser confirmados. Para muitos ele continua servindo como uma espécie de sede profana para reuniões criminosas, rituais obscenos e toda sorte de perversão inominável. Para outros ele é apenas uma lenda urbana fomentada por narrativas contraditórias e sem fundamento.
Não há como dizer ao certo qual é a verdade e provavelmente nunca saberemos ao certo.